Fecho os olhos e procuro-te nesse
mundo dos sentidos que fica sob as nossas pálpebras.
Percorro caminhos ínvios por dentro
de mim, sempre a passo lento e curto, palmilhando esta cidade subterrânea e
mágica, esta cidade interior, única e encantada. Encantada de nós. Ainda ontem eras matéria nestas praças,
nestas ruas; ainda ontem te conseguia alcançar, numa dança de toques furtivos e
tremores de pele; ainda ontem fazias nascer flores nas bermas dos meus olhos,
fazendo sorrir a própria Primavera. Fecho os olhos e procuro-te no meu mundo,
sabendo que só aqui te encontrarei, e no entanto numa alquimia que só mágicos
como nós percebem, pressinto que é neste mundo que jamais te encontrarei.
És sazonal e livre como os
malmequeres do campo e deixas cair o brilho das manhãs quando te (a)colhem.
És sazonal e livre como os humores da
Primavera e sempre que te quero sol e brilho, ofereces-me a ventania nos cabelos
e a chuva fresca nos meus olhos.
Fecho os olhos e procuro-te. No mundo.
Olívia Santos